O Crepúsculo dos Deuses de um restaurante


Consultada a ementa, encomendei uma perdiz à Fialho, a outra parte pediu pregado frito com açorda de poejos (esta açorda correspondia à consistência vulgar no centro e norte do país). Como o meu convidado não distinguia vinho branco de

As favas estavam mornas, desenxabidas; o recheio das empadas, pesado e frio, amorfo de sabores. O vinho já chegara à mesa, esse, sim, bom, de boa cor, correcto na temperatura, com um bom final.
Acabou por chegar a perdiz, que me tinham respondido

A perdiz, desfiada para meu espanto (tinham calado isso) e de clara criação industrial, vinha também no prato, a nadar num molho pálido, insípido, visivelmente ligado com fécula, misturando umas verduras tristes aos fiapos da perdiz. Nem guisada estava, quanto mais estufada. Duas fatias pequenas de pão frito encostavam-se às bordas do prato, como a molhar os pés, opostas uma à outra. O pregado, de aquacultura, além de ser uma posta ridiculamente enorme, com o polme da fritura escuro demais, estava seco de tanto tempo ter fritado, e a açorda era vulgar.

Comi, bebi, paguei e saí sem uma palavra. Apetecera-me ir à cozinha e dizer como era que se podia ter dado alguma decência àquilo. Tinha, porém, compreendido que o restaurante do meu tempo de estudante em Évora, e das vezes em que depois fui lá, embora cheio (de papalvos janotas), esse restaurante estava a morrer da pior maneira: sem dignidade nem competência. No entanto, tenho para mim ser este o único modo de morrer dos restaurantes que já foram bons.
Etiquetas: Restaurantes
6 Comments:
Lamento ter de lhe dar toda a razão. Há já vários anos que passei, em Évora, para o Luar de Janeiro, com a vantagem de muito menor despesa.
Não costumo comer em Évora quando vou em trabalho ao Sul. Dessa vez, sem ter consultado nada, fui ali para não mais voltar. De qualquer modo, fica apontado o Luar de Janeiro.
Como só estava a pensar em Évora, sem me lembrar de quem há que por ali passa mas não se importa de comer uns quilómetros antes ou depois, esqueci-me de um restaurante imperdível, o Manuel Azinheirinha em Montemor-o-Novo. Atenção, nem se lembrem de tentar ir lá sem marcação prévia.
Com.er, também o Azinheirinha está a morrer, mas de solidão. Esse fica-me mesmo no caminho (Escoural), e, nos últimos tempos, talvez por causa de tamanho pasmo, tem-lhe dado para beber imperiais no seu próprio balcão. Da última vez, levou-me o coiro e o cabelo, e nunca mais lá fui. Não me importo de pagar se for sítio onde. Agora tenho visto as portas fechadas. Este mês conto por lá passar, e confirmarei quanto a portas fechadas ou abertas. Hoje, a estarem abertas, será muito mais para taberna dos descendentes dos homens das grutas que para gente urbana e suburbana, ansiosa de regionalismos.
Das vezes que lá fui, não havia gente no restaurante, o que é sempre sinal de mau agoiro.
Ai o que eu gosto da Taberna Típica Quarta-Feira, em Évora!!!
Depois dumas favas desenchabidas e de uma sobremesa já com alguma idade, no Fialho, mudei-me. Este é pequenino, acolhedor, em conta e o dono esbanja simpatia.
Apontei, também, obrigado, Tareca. De facto o Fialho deu nisso mesmo.
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