Aba de vitela assada à moda de Lafões com batatas assadas e arroz de forno
Hoje fiz esta carne de que gosto bastante. O modo muito peculiar de a assar torna-a única, de invugarmente macia. Levei anos a descobrir o segredo de ficar assim, anos somados a não sei quantas tentativas falhadas de assar uma carne como aquela que comia onde a sabiam fazer. Foi o cozinheiro e dono de O Camponês, restaurante de S. Pedro do Sul, quem mo revelou.
O assado faz-se com carne da parte da aba com costela, de vitela arouquesa como manda a tradição. Mas não é forçoso que seja dessa raça. Esta era-o. Forçoso, sim, é que seja de um animal novo, e isso reconhece-se pelas cartilagens que surgem na parte superior da costela e que se vêem na imagem diante da lâmina da faca. A carne tem de ser gorda como se vê.
Cobri o fundo de uma assadeira com folhas de quartos de uma cebola. Os bocados, para o grande, já vinham semipartidos, foi só acabar de cortá-los e pô-los sobre a cebola. Temperei com azeite. Os 2% do peso da carne em sal funcionaram também aqui. Mais nenhum tempero é devido. Mas, porque me dá gozo pôr a trabalhar o moinho eléctrico da pimenta, deitei só um nada dela, que valeu tanto como não ter posto nenhuma Cobri então a carne com água, como se vê na imagem.
O segredo é este mesmo: cobrir a carne com água e levá-la assim ao forno. A água aquece, começa a fervilhar e vai evaporando, e a carne, cozendo e assando na parte cada vez mais emersa. Vai-se gerindo o assado, voltando os pedaços, para nunca se queimarem.
A meio, pus umas batatas pequenas na assadeira que depois retirei para, noutra, lhes dar cor mais rapidamente, pondo no fundo um pouco do molho do assado.
A carne ficou pronta quando restou meio centímetro de molho no fundo.
Entretanto fiz arroz de forno como sempre faço. 1 ½ chávena de calda por cada de arroz, neste caso agulha. Na calda entrou 1/3 de molho da carne e hortelã, além de sal. Primeiro no tacho, ao lume, e assim que a calda levantou fervura passei-o para o alguidar, que levei a forno forte e depois com o forno desligado. Saiu sequinho, grão a grão. Sai sempre.
Cozi uns grelos, fui à garrafeira e escolhi um vinho, o da imagem. Não cheguei a beber meio gole dele. Estava estragado, mas com a rolha em forma como se pode ver. A garrafeira fica sob a casa, é fresca, escura e com humidade suficiente. O vinho é que teve vida curta e no nariz não anunciara a sua morte prematura. Só na boca. Não estive para descer de novo as escadas. Comi o assado que estava como é habitual, a carne macia, as batatas boas, o arroz solto, os grelos ainda fracotes, e bebi água.
Etiquetas: De outros - carne
27 Comments:
este blog eh uma looouuucuraaaaa!!! :-)))
que pratos maravilhosos!
Nunca tinha feito qualquer assado com tanta água, é como se cozesse e assasse ao mesmo tempo. Que interessante. Pena é não saber muito bem se encontrarei essa vitela arouquesa, vou investigar.Por sua vez, o arroz de forno devia estar inqualificável, de bom...
Fezoca, vá-se servindo :) Ou seja, tem o modo como vou fazendo as coisas. Pura malvadez a minha, parece-me, não acha? rsrs
Cristina, se pedir aba com osso (estes ossos são das costelas), mesmo de novilho, e se tiver aquelas cartilagens que apontei, serve à mesma. Tem talvez é de procurar num talho e não nas grandes superfícies, e dizer que quer aba com osso, mas que tenha as ditas cartilagens. A maior parte das vezes é com essa carne que faço.
Arranjo de vez em quando carne de arouquesa, porque tenho um amigo metido nisso, cria vitelas dessas e vende-as abatidas e em peças para restaurantes do Porto e de Lisboa. Se não fosse ele, nem via tal carne :)
Esqueci-me de pôr o link no arroz. Faço-o sempre frito e na porpoção de água já dita: 1 1/2 chávena de água para 1 bem cheia, a passar a borda, de arroz.
Sempre que passo por cá, fico com uma fome danada! Este blogue é realmente uma homenagem à melhor gastronomia nacional.
Querem dar cabo de mim...
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............... . Um abraço apertadinho,
................ . Daniela
Como tudo o que apresenta, este prato tem também muito bom aspecto! Mas para mim, carne de vaca não....
O arroz está, de facto, magnifico!
Já agora:
Vou fazer para amanhã à noite arroz de pato, e desta vez vou usar alguns dos seus truques!
Depois digo como correu!
O atelier de chocolate pode não sair mais, mas que tal um restaurante? Se for a Portugal espero ser convidada para uma refeição (o prato pode ser este!).
Elvira, temos uma cozinha excelente, muitíssimo variada, em regra tão saborosa como pesada e pouco colorida. O meu prazer está no desafio de a tornar mais atraente e menos calórica pelo empratamento, mantendo o fundo da sua identidade. Digamos que consegui sentir-me com alguns pratos no modernismo culinário, passe a heresia.
Mas falta-me entrar no pós-modernismo da cozinha molecular, no neobarroco e no minimalismo da cozinha dita de autor, tantas vezes policopiada, continuando eu o paralelismo estético com a arte.
A opção pela cozinha portuguesa tem esse sentido que eu disse. Conheço bem a cozinha espanhola, conheço razoavelmente bem a cozinha francesa, ambas de as fazer e de as saborear lá, e menos de outras cozinhas, salvo a dita internacional. Criar sobre a cozinha portuguesa é-me um desafio bastante grato.
Está de dieta, Daniela? :)
Estou curioso, Colher de Pau :)
Restaurante, Karen? Sou passarinho sem gaiola :) Restaurante prende demais.
Meu Deus! Eu não comia isto sem voltar a descer as escadas! nem que tivesse de as descer mais umas quantas vezes.
Mestre, foi maior a preguiça que a vontade de beber. Mas também lhe garanto que se a saboreássemos juntos, não sei se duas garrafas nos bastavam :)
ola, fiz hoje a sua receita e posso lhe dizer que ficou divinal... é ter sempre receitas destas que nos lembram os sabores do nosso belo país...
beijinhos.....
Fiz a receita! Fantástico! Muito obrigado por partilhar estes segredos connosco!
Vou experimentar...mas tenho dúvidas se calhar básicas:a que temperatura deve estar o forno? Quanto tempo de assadura? O referencial da água para terminar parece olhométrico...
Informo a todos os interessados, que existe uma cooperativa que comercializa Vitela Arouquesa DOP, chama-se Carnarouquesa - Agrupamento de Produtores de Bovinos da Raça Arouquesa, e abriu recentemente um talho em Cinfães e vende para outros pontos do país.
Bom apetite.
Afinal... Forno a que temperatura?
Afinal... Forno a que temperatura?
Mago, a maior parte da cozinha é olhométrica para quem tem treino nela. Mas de facto há indicações básicas. A altura da águia está nas imagens. Quanto à temperatura respondo abaixo. Resta-me saber se é vivo ainda. Espero bem que sim.
Para o TZ (please...) Mantenha a temperatura nos 250 ºC enquanto a água não ferve. Se a carne for tenra passe-a depois para 200 º; se for mais para o duro, vá até ao fim com 180 º C.
Percebido.
Como nos açores a moda é "novilho" e não "vitela", 180 graus it is!!!
Olá , finalmente encontrei uma receita que talvez me calhe bem , porque até agora sempre que asso vitela tem sido sempre um desastre😞. O que eu gostaria de saber é quanto tempo é que a carne fica com o sal a marinar? Ou não fica a marinas e vai logo pro forno?
Obrigada pela partilha😊
Vai logo para o forno.
Obrigada pela rápida rápida resposta Nuno! 😀
Cumprimentos
Boa tarde. Parece deliciosa. E adoro a descrição tão pormenorizada. Vou experimentar. Só uma questão. Para 10 pessoas, quantos quilos de vitela?
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