Rojões em banha



Os rojões das Beiras Alta e Litoral (desta, o distrito de Aveiro, pelo menos), quanto sei, só levam sal e, se não se gastassem logo,

Recordas, amor, quando nos perdíamos
por consolas tão fartas
e ilhas de congelados e levávamos
o corpo a vadiar liberto
entre beijos sem fundo e apelos
de compras coloridas?
Bom, vamos mas é aos rojões. Usei quanto à carne o seguinte, conforme comprei à vista desarmada, sem falar em pesos:

Toucinho gordo do lombo - 3,2 kg
Sal para a carne - 2% do seu peso.
Sal para a banha - 0,5%
Um tacho grande
Boiões de fecho hermético de ¾ de litro.
As imagens elucidam o processo todo, mas não bastam. O toucinho que arranjei é de porco ibérico. Pode ser de porco branco, e não será difícil encomendá-lo, porque arranjá-lo do pé para a mão em Portugal, isso não arranja,

Dizia-me um amigo castelhano, dono de um restaurante, que no matadouro de onde se abastece vão camiões e camiões portugueses carregar carcaças de novilho e de porco, e exigem-nas magras, sem nenhuma gordura, ao passo que os espanhóis as levam normalmente gordas, o que torna a carne mais tenra, saborosa e suculenta.
Por mim creio que o vulgar dos consumidores nossos compatriotas não escolhe a carne

Terá então de escolher para este rojões, se quiser, a ponta de lombo com gordura como a que vê

Parta a carne em pedaços grandes, entre os 150 e os 200 g, mais para este peso que para aquele. Tempere-os com os tais 2% de sal, mas pode ir até os 1,8% do peso da carne se for de menos sal. Deixe-os estar umas horas a absorver o tempero. Se não tem balança digital, dá muito jeito tê-la para os pesos exactos, e não são caras. Pode mesmo aperfeiçoar-se no sal a tal ponto que

Corte o toucinho, em bocados bastante mais pequenos (ver na 6.ª imagem). Tempere-o com 0,5% de sal e se aproveitar os torresmos finais, rectifique-os de sal antes de esgotados de banha. Desta vez, tirados os rojões e a banha sobejante, não houve torresmos. Esqueci-me deles ao lume e ficaram estorricados, riso amarelo.
Ponha o toucinho e a carne num tacho grande com um copo de água no fundo e vigie a força do calor,

Entretanto, já esterilizara os boiões no forno a 100º C durante 30 m, e as borrachas vedantes em água a ferver durante o mesmo tempo.
Louros os torresmos, deixei-os amornar e aconcheguei-os o melhor possível nos boiões, sem chegarem muito ao cimo. Vi, na boca do frasco, o nível até onde chegava a parte inferior da tampa quando fechada, e enchi os boiões de banha líquida e morna até 1 mm abaixo desse nível.

Levei os frascos cheios a esterilizar mais de meia hora numa panela de água a ferver e a seguir arrefeci-os, como mostra a imagem, sobre a própria água quente da panela, com água fria a correr.
Depois verifiquei o vácuo. Estava muito firme.
Agora tenho de se esperar umas três semanas para que os rojões ganhem o seu aroma próprio de conserva, que os torna únicos. A partir de então podem abrir-se. É um confit português para mim superior ao francês de pato, com um sabor que lembra, para melhor, o das boas rillettes.

Depois aproveita não só a banha que sobrou dos rojões consumidos, como a que excedeu as necessidades. É uma banha de alta qualidade.
Resta-me imaginar um modo moderno de os apresentar, porque bons estão eles, e quando os abrir ainda estarão melhores.
Etiquetas: De outros - carne, De outros - conservas e temperos
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