Callos con garbanzos - Dobrada com grão
Tem ido um inverno desagraçado, e hoje a vida deixou-me o dia quase livre, de modo que foi este o meu almoço, um almoço que no fim me pôs a transpirar, já não era coisa que se comesse para o tempo que, convenhamos, não é tão invernoso como eu disse, nós é que teimamos em andar vestidos à Verão. E transpirar, transpirei. Ainda por cima, bebemos do mesmo tinto da Quinta da Canameira de domingo passado, potente e quase negro, com 13,5ºC, mais de mastigar do que de beber, isto é uma frase idiomática, não liguem, é só de beber, claro, e com todos os sentidos despertos, como mandaria Zeus na infinita lascívia com que os gregos antigos o criaram, imaginando-se a eles mesmos assim e ansiando-se iguais à sua própria obra. Também se compreende que não poderia ser de outro forma, penso eu, com um mar tão azul como aquele, com um sol tão intenso, com as cigarras a atroar de vida.
Mas onde eu já ia! Daqui a nada estava a contar a história do engano de Dánae. Vamos mas é aos callos con garbanzos, prato tão rústico quanto excelente, de que gosto muitíssimo. Quando o encontro numa lista de restaurante, nem hesito. Hoje é um prato nacional de toda a Espanha, muito provavelmente com origem na Andaluzia, sabe-se lá se desde o tempo do Al-Andaluz, digo isto porque em Marrocos se come um prato parecido, a diferença é que as tripas são de carneiro e os temperos mais complexos. Resta descobrir quem trouxe para a Península Ibérica o grão-de-bico, que veio do Oriente. Os fenicios, os gregos, os árabes, os próprios navegadores do séc. XVI? E eis-me de novo a derrapar no chão da cozinha. Não há maneira de o evitar, está visto. Escrever é um vício. Vamos lá então às coisas do estômago, um dos nossos lugares de prazer, ia pôr um dos nossos pontos erógenos, o que não estaria mal de todo no tempo do machismo mais sem vergonha, em que se dizia que a mulher conquistava muitas vezes o homem pela barriga. Falta saber de qual dos dois seria a barriguinha.
Mas comecemos, senão nunca mais desencalho.
O que levou para duas pessoas, eu e o meu ajudante do costume.Mas comecemos, senão nunca mais desencalho.
400 g de dobrada já cozida.
580 g de grão-de-bico de lata (prefira sempre o cozido em casa).
6 rodelas de chouriça alentejana de porco preto.
1 pedaço de presunto gordo às fatias (uns 100 g).
1/3 de pimento vermelho partido miudamente.
1 tomate menos que médio, picado, comn casca e sementes.
1/2 cenoura às rodelas.
1/2 cebola média picada.
2 colheres de sopa rasas de frainha de trigo.
Pimentão doce (usei o de La Vera).
Pimenta preta do moinho.
Cominhos a gosto (no meu caso foi a quantidade necessária para não passarem de bastante discretos).
2 dentes de alho .
Azeite, q.b.
Pasta de tomate em tubo (para ajudar a dar cor), q.b.
Não segui nenhuma receita, consultei algumas, e fiz como me parecia bem, usando ingredientes e um modo que não vi em lado nenhum. Foi por isso que classifiquei este prato como recriação.
Refoguei a cebola no azeite com o pimento e a cenoura. Quando a cebola estava transparente, já quase a alourar, juntei o alho laminado.
A seguir pus o tomate, que deixei desfazer-se, e depois a farinha, e o refogado ficou a apurar em lume brando.
Juntei depois água quente e deixei ferver uns 15 minutos em lume vivo para o caldo tomar o sabor do puxado, já com pimenta preta do moinho e os cominhos.
Coei o caldo para o tacho (limpo), levei ao lume para levantar fervura, pus metade do pimentão doce.
Juntei a dobrada, a chouriça e o presunto gordo às fatias. Acrescentei-lhe uns 10 cm de tomate concentado de bisnaga. Mexi, e fervilhou uns 20 minutos.
E toca a comer, que já passava das 2:00 h da tarde. Com colher de sopa, como o comem em muitos lados.
Juntei a dobrada, a chouriça e o presunto gordo às fatias. Acrescentei-lhe uns 10 cm de tomate concentado de bisnaga. Mexi, e fervilhou uns 20 minutos.
Acrescentei o grão, previamente passado por água para retirar o líquido em que vinham. Esmaguei uns quantos para engrossar um pouco mais o caldo e dar-lhe mais o sabor do legume. Deixei apurar e tomar gosto, coisa de um quarto de hora. Quase no final pus o resto do pimentão, para que ficasse a saber mais a ele
E toca a comer, que já passava das 2:00 h da tarde. Com colher de sopa, como o comem em muitos lados.
Etiquetas: Recriações - Carnes
13 Comments:
Está com um excelente aspecto, e quase que lhe adivinho o cheirinho!
Mas para mim, só comia o grão, do qual sou também garnde apreciadora e deixava a dobrada que não sou capaz de comer!
Eu também só comia o grão porque adoro este molho em cima do arroz... mmmmmmm já lhe estou a sentir o cheiro! :-)
Eu comeria o prato todo. Acompanhado desse vinho então... Amei a receita e o texto também. Parabéns.
Penso que terá valido bem a pena tanta tramspiração :)
Nunca comi dobrada com grão, mas tenho a certeza que era pessoa para me deliciar com esse prato num dia de Inverno, mesmo que estivessem 30º ou mais...
P.S. Este também era um óptimo prato para ser o 1º prémio de um outro concurso patrocinado pelo Avental!
Obs. É TRANSPIRAÇÃO e não tramspiração!
Como estão os amáveis comentaristas "numa" de "o que é que eu faria" eu também o farei.
Eu comeria o prato todo, beberia do vinho e, perdoem-me a vulgaridade, estalaria as beiças de contentamento que de dobrada já tenho saudades, posto que nesta minha casa, e por imposição da senhora minha, está interdita a entrada de tal acepipe a que ela se refere apenas como "alcatifa".
(Parece-me que vai ter que se quebrar tal interdição mesmo que apenas em versão unidose!)
Colher de Pau, não me admira haver pessoas que não gostem de queijo, a dobrada deve ser mais frequente; se àqueles digo que não sabem o que perdem, a si também o digo a respeito da dobrada. Mas se pensarmos melhor, as pessoas que não gostam de comer determinada coisa que para outros é boa ou muito boa, essas pessoas não perdem rigorosamente nada, porque não podem sentir desgosto por não comerem algo que lhes desagrada. Desculpe o arrazoado, hoje acordei meio filósofo :)
Claudia sem A, era uma boa sócia para se comer callos com garbanzos para quem não gostasse de grão. Como eu dantes, em miúdo :)
Claudia A, foi o que sucedeu, nem um grão sobrou. Aqui, ao contrário da sua homónima, já tínhamos que reforçar bem não apenas o grão, também a dobrada :)
Caríssimo Caiano Silvestre, achei graça a essa da alcatifa :) A gente diz que não, jura e torna a jurar que somos nós, mas quem manda no mundo são elas :)
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