Sopa de alheira com ovo e grelos
Hoje o tempo esteve mais para um gaspacho do que para uma sopa destas. Como a preguiça era grande, e a sopa, relativamente simples, serviu de prato único para o meu almoço. Magiquei-a vai para dois ou três anos, depois de ter ouvido falar numa outra lá para os lados do Douro, que nunca comi nem vi, e eis que, quase pelo preço de uma alheira, tem aqui algo diferente a que estará habituado.
Hoje as alheiras não são como as dos marranos, salvo seja, que as comiam e depois iam rezar e ler o Talmude, às escondidas de bufos e esbirros do Santo Ofício. Levam carne de porco e as carnes que se lhe quiserem deitar. Já não as comeriam hoje, nem os judeus as comem, bem como os de Maomé. Pelo menos nisso estão de acordo, e creio que estariam em muito mais, se os apóstatas de um lado e de outro não fizessem deles o que cristianíssima gente também faz: pietás, órfãos, viúvas e viúvos sem conto.
Mas voltemos ao de que o blogue trata. Aonde já me estava a levar esta sopa.
Para ela necessita, por pessoa:
300 ml de água (esta exactidão na água é porque se põe mais, dilui os sabores; se põe menos, alguém lá em casa se sentirá injustiçado).
½ alheira.
Uma pouca de carne (aqui galinha, barriga de porco e chouriça, mas já usei frango, presunto, vitela, bacon, enfim, o que havia na altura).
Pão da véspera ou do dia, ralado.
Um ovo escalfado separadamente.
Grelos cortados, cozidos também em separado.
Pimenta preta do moinho.
1 dente de alho esmagado sob a lâmina deitada da faca (dá então um murro em cima da lâmina).
Pimentão.
Coza as carnes. Reserve-as e, no caldo, ao qual deve repor a água necessária para os tais 300 ml por pessoa (medida de um prato de qualquer sopa), mergulhe as alheiras com a pele golpeada, pele que depois retirará, limpa. Esmiúce bem as carnes com as mãos. Introduza as carnes no caldo, que está a ferver em lume brando. Junte o pimentão até obter a cor das alheiras, o alho, a pimenta preta, o pão da véspera ou do dia, ralado, para espessar um pouco a sopa. Deixe-a ferver meia hora brandamente, com a panela tapada, mexendo de vez em quando. Entretanto, escalfou os ovos necessários e cozeu os grelos como é de bom uso, tacho destapado e al dente para ficarem verdinhos. Uns três minutos antes de acabar asopa, veja se está no nível inicial, se não (está), junte água, passe um dente de alho pelo esmagador e junte-o com os grelos ao preparado, dê-lhes uma volta, rectifique os temperos, e sirva esta sopa de comer e chorar por mais, colocando um ovo por prato.
Etiquetas: Criações - sopas
10 Comments:
Esta receita é perfeita para não se comer alheira sempre da mesma maneira! :-)
Perfeita para os dias mais frios que aí vêm e para quem, como eu, adora uma sopa. Obrigada por mais esta inspiração!
Bela sopa, parece que já lhe estou a sentir o gostinho... Com receitas destas o Inverno pode fazer cara feia, que não mete medo!
sou um grande fã das sopas e essa me parece muito boa. no entanto, o brasil pergunta: o que são "grelos"?
por aqui, "grelo" é a parte mais importante da anatomia genital feminina. :-)
Elvira, como vê gosto de variar :)
Justa, não tem de agradecer. Mesmo que eu a fizesse para si não tinha de agradecer. Faça-a só, é simples e serve de prato único.
Paula, não sei se desse lado o vento desce a encosta da serra quando neva lá no alto. Deste lado desce e chega aqui a assobiar, gelado. Mas com dois pratos desta sopa até os lobos dormiam :)
Träsel, o mais difícil de arranjar nessa margem do mar deve ser a alheira mesmo...
Deixando a ironia, os grelos são as partes verdes e aéreas do nabo, folhas e flores em botão ainda.
Esta é das minhas... então com alheira, nunca me teria passado pela cabeça, mas deve ficar excelente! O problema é que em que 5 que compro só uma vale a pena...
Cristina, se for a um Continente, Modelo ou Feira Nova, costuma haver na charcutaria alheiras da Beira-Lamego, que são as que uso. Passará a acertar 95% na qualidade das alheiras, em vez dos actuais 20%, sendo os 5% que faltam para falhas no manuseamento e conservação dos produtos perecíveis nesses hipers. Experimente.
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