Peru institucional
Peru assado, com recheio de requeijão, maçãs e sultanas, acompanhado de maçãs assadas e folhadinhos. É a minha contribuição para o HEMC 6.
Este peru tornou-se uma instituição no almoço de natal de minha casa. Tinha 12 kg em carcaça, mas já os assei noutros natais com 18 e 20 kg. Como peru uma vez por ano, no dia de Natal, só para poder saboreá-lo com mais gosto. É uma receita de cariz francês, normando mesmo, só que o requeijão é de ovelha. A receita foi retirada da Grande Enciclopédia da Cozinha, de Maria de Lourdes Modesto. Os folhados são introdução minha, bem como alguns procedimentos de carácter técnico, a temperatura do forno e do peru para constatar o seu grau de cozedura, a formação do molho, o tempero das maçãs, etc.
Este ano, acompanhei o assado com um excepcional Ribera del Duero, o Valbuena 5 de 1991, a segunda marca das caves Vega Sicília. Estava macio, cheio de saúde, a cor naturalmente evoluída, com aromas de anis e compotas, um final que nunca mais acabava, um vinho muito nobre, isto é, ao provar-se, dá-se logo conta que deve ser bebido com delicadeza amorosa.
Passemos ao perú. Esteve dois dias em salmoura numa vasilha à justa para o seu tamanho, com água a cobrir, tendo-se deitado nela 3 kg de sal e 3 limões às rodelas.
Na véspera, depois da consoada, retirei o peru, escorri-o bem e sequei-lhe o interior com um pano. Depois, fiz o recheio e enchi com ele a barriga do peru, cuja abertura tapei com folha de alumínio para o recheio não sair. Este levou 4 requeijões de ovelha, 320 g de sultanas, 8 maçãs, sem casca nem caroço, cortadas em pequenos dados, sal e pimenta preta com abundância, moída no triturador (1-2-3). Deve ficar mais que sobre o salgado e a saber a pimenta com intensidade.
Às 7 da manhã levei o peru ao forno, pincelado com azeite, integralmente protegido com folha de alumínio, o tabuleiro com água no fundo, o nível sempre vigiado. Depois irá constituir o molho. Assou 2 horas a 220ºC e depois 3 ½ a 165ºC.
Estendi a massa folhada o mais que pude, cortei-a em tiras com uma faca afiada (para folhar bem) e dividi-a em pequenos quadriláteros. Humedeci com água dois extremos opostos, dobrei os quadriláteros e, com uma ligeira pressão dos dedos, colei-os nos rebordos da frente. Pincelei-os por cima com gema de ovo diluída num pouco de água e levei-os ao forno a 220º (bastaram 7 minutos).
Descarocei as maçãs. Com uma faca de ponta afiada, golpeei a casca em todo o “equador” do fruto, temperei-as com de manteiga, sal e pimenta preta ainda do triturador. Levei-as a outro forno e aí ficaram a assar.
Entretanto, a meio do assado, constipei o peru com vinho do Porto e reforcei o tempero com pimenta do moinho e sal fino, sempre sustentando o líquido no fundo do tabuleiro.
Para o fim, retirei o peru do forno ainda mais três vezes para vigiar. Quando atingiu os 75ºC nas coxas, tinha 78ºC no mais interno do peito. Estava assado. Coei e desengordurei o molho, de um castanho escuro, e engrossei-o com um pouco de Maisena. Não tirei nenhuma foto ao prato servido, não era altura para se andar de máquina na mão. O prato foi feito com carne branca e escura, uma maçã assada, uns quantos folhadinhos, um montículo de recheio. Quem quis molho, pô-lo. A carne estava suculenta e o assado perfeito. Com termómetro para vigiar a cozedura, qualquer um pode ser um bom assador. Ou quase...
Etiquetas: Recriações - Carnes
6 Comments:
Devo dizer que o seu peru tem um aspecto delicioso... E o recheio de requeijão deixa-me a vontade de esperimentar!
Também gostei dos acompanhamentos... É engraçado porque também tinha tido a ideia de acompanhar o meu cabrito assado do dia de natal com uns folhadinhos, mas acabei por fazer algo mais tradicional: batatinhas assadas, um arroz de forno e umas couves salteadas em azeite, alho e croutons.
Espero que tenha tido um execelente Natal!
Este bicho estava com um arzinho de fazer acordar um morto!...
Obrigado, Colher de Pau. Todos os anos este perú voa. Só não voo eu, que o faço sempre, bem como outras coisas do Natal. Também, se naquele dia em que me meti a cozinhar e a ler livros de cozinha, tivesse escolhido outro passatempo, quem me faria as coisas que faço para mim e para os outros? :). O perú estava bom,igual a todos os anos, desde que comecei a vigiar a cozedura com termómetro (é muito importante para os assados e não é caro).
Tenha um bom ano de 2007.
Acordava, sim, João Barbosa, mas, verdade, verdadinha, com aquele vinho - soberbo de pujança e saúde aos 15 anos! -, bebia-se o peru e comia-se era o vinho :)
Gostos não se discutem (o que até nem é verdade): vou antes por um bom capão.
O gostos discutem-se, sim. E agarrar um galo eunuco como no tempo de Roma? Nem em Freamunde. Já ninguém usa a navalha para capar os desgraçados. Castração química, caro JVC. Mais precisamente, por hormonas. Mas talvez algum curioso ainda os cape à traição: os frangos castram-se pelas costas...
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