Gelado salgado de requeijão de ovelha com doce de abóbora e redução de vinho do Porto

Não gosto de abóbora, o meu pai obrigava-me a comê-la, como tudo o que vinha para a mesa, e


O que me atrasou a decisão foi a perspectiva de uma enorme estopada. Ter de esperar um dia inteirinho de 24 horas para que os cubos de abóbora largassem, com o açúcar, a água vegetativa para se metamorfosear em calda, ter de esperar tanto por um doce de abóbora, não, isso não é comigo. E resolvi fazer o doce como as musas mo fossem ordenando, sem nunca ter cortado e cozinhado abóbora uma vez

Pois então descasquei e parti aos cubos a abóbora, pesei

Quando bem cozida, esmaguei-a com um garfo no próprio tacho e comecei a ficar todo contente porque tinha fios como os da chila, embora mais curtos. Bom augúrio para o doce. Escorri a



Mexi e retirei do lume. Quando arrefeceu, vi que exsudava uma calda inconveniente para o fim a que se destinava, e então, como isto se passou ontem, deixei o doce num coador toda a noite a escorrer essa calda para o tacho. De manhã concentrei esse pouco de calda até ponto de pérola forte e devolvi-o ao doce. Que bom estava! Aquele toque de acidez, o sabor a porto, os fios...
Também ainda ontem preparei a base do gelado salgado. Nomeio o que levou:

Nata fresca pasteurizada - 200 ml
Leite magro - 250 ml
Pimenta preta fina do moinho
Sal fino
Estragão fresco picado miudamente - um bom ramo.
Estragão seco - 2 colheres de chá
Levei as natas e o leite a aquecer com o requeijão e, uma vez

Eu imaginara um contraste bem vincado entre o gelado e o doce. A nível de sal, a nível de pimenta preta e de estragão. Aí é que residiria a diferença da sobremesa. Queria recriar, modernizar aquele requeijão com doce de abóbora que a Elvira comera nas faldas da Serra da

Bom, abreviemos. Hoje de manhã, na minha ideia, a calda do gelado sabia insuficientemente a essa erva usada pelos franceses e nada na nossa cozinha. Preferi-a no gelado à canela no doce. O Gama que me perdoe e que tenha em conta o meu abuso da pimenta. Usei o estragão com vantagem sobre a canela, para meu gosto. Ainda que estivesse a recriar uma sobremesa que não é antiga, é apenas habitual por estas bandas e sem dúvida que portuguesa. Mas, nestas e

A base do gelado sabia pouco a estragão, dizia eu, e então meti a varinha mágica no preparado e desfiz o estragão todo. Ficou a saber mais. Pensei no entanto que, gelado, mais sabor se perderia, e então fervi bem um pouco de leite com o estragão seco, juntei esta infusão coada ao preparado e ainda mais estragão fresco picado. Também me parecera com pouco sal e pouca pimenta preta (estava bem fria a calda do gelado, era já por isso). Carreguei bem nos dois e pus na sorveteira uma calda de que qualquer de nós diria um exagero de temperos,

Enfim, fiz uma redução do tal vinho do Porto Dona Antónia, fervendo devagar, destapado, e evaporando-o até ficar xaroposo. Creio que a redução terá ficado num quinto do vinho inicial. O curioso é que sabia a uvas passas e tinha uma acidez muitíssimo atraente. Viria a ligar muito bem com o doce, potenciando o seu sabor e a sua acidez, contrastando com o gelado e reforçando a surpresa das

Montei a sobremesa na hora. Coloquei primeiro o doce com uma forma quadrada de empratar, uma cova ao centro para o gelado, depois o gelado, a redução do vinho do Porto, uma ponta de estragão para dar contraste de cor. Foi o culminar de um almoço que me levou toda a manhã a fazer e que bem depressa comi. E se o que antecedeu estava muito bom, desta sobremesa só posso dizer que...

Etiquetas: Criações - Sobremesas
2 Comments:
Fico espantada com a sua criatividade! Parabéns! Que bela maneira de reinventar sobremesas com abóbora. :-)
Elvira, vi o seu doce de abóbora e fiquei a magicar como seria bom com o aniz. Adoro esse sabor. O difícil é arranjar o aniz estrelado por causa da gripe das aves, esse enorme logro de alguma indústria farmacêutica, em que, dizem, o demitido Rumsfeld tem interesses. Enfim, quem não tem cão, caça com gato: pensarei de futuro num sabor semelhante, erva-doce numa boneca, se não arranjar o tal aniz.
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