Uma ginja boa para se exercer a virtude
da paciência e a arte de saber esperar
À última hora, já lá vai mais de um mês, arranjei 750 g de ginjas, depois de tirado o pé. Arranjei também aguardente vínica com 77º (ou 77% de álcool), que rebaixei com água do Luso para 40º (%), de modo a obter 1 litro, pela seguinte regra de três:
77 --------------- 1
40 --------------- x
x=40:70 x=O,520
Precisei pois de 520 ml de aguardente a 77º(%) e de 480 ml de água para obter o tal litro com 40º(%) de álcool.
Num frasco pouco fotogénico, pus 200 g de açúcar, as ginjas e a aguardente rebaixada. Esteve assim um mês no escuro.
Passado esse tempo, ou seja anteontem, mudei-o para um frasco de boca larga. Na imagem acima, ainda se vê a espuma de o ter feito havia pouco. Juntei-lhe 700 g de baga de sabugueiro bem madura, que ripei dos cachos (estamos no tempo dela), mais 3 olhos de hortelã, retirados passadas 12 horas, e 3 paus de canela. Fui agitando o frasco para a baga soltar a cor, que é para o que serve: não dá nenhum aroma ou sabor. Ganhou, sim, a cor carregada de um carrascão espesso.
Coei o líquido, separando a baga, de que me descartei, reservando porém as ginjas, como se vê na imagem à esquerda, a serem escolhidas para depois se juntarem ao licor coado.
Como o licor está com bastante força alcoólica, suponho que com 35º, no sábado vou acrescentar-lhe 300 ml de água do Luso, rebaixando-o assim para cerca de 20 a 25% de álcool, e 280 g de açúcar, para atingir os 400 g por litro. Depois é engarrafá-lo e esquecer-me dele. Se o blogue durar até abrir as garrafas, não esquecerei de me louvar aqui a mim mesmo.
Já tinha feito esta ginja há anos, é da autoria da minha cabeça às vezes delirante, que este ano lhe deu para juntar um pouco de hortelã, na esperança de que, ao abrir a garrafa, o seu aroma fresco seja apenas uma longínqua sugestão.
Nota: à parte, quero dizer que a baga de sabugueiro foi usada para dar cor aos vinhos verdes tintos, o que era e é proibido. No entanto, sublinho que é aplicada hoje como corante natural na indústria alimentar, por exemplo, nos iogurtes de morango, de framboesa, de frutos silvestres...
Etiquetas: Criações - compotas e licores
9 Comments:
Ginja...! Que coisa mais boa! :-)
Ginjinha é o equivalente português do ligante da Bahia. Você prova, acha leve, toma lá uma garrafa inteira e, como se diz em bom baianês, cai no lelê.
Elvira, com este calor nem me deu ainda para acabar a ginja. Fica espessa e, com os anos, a cor acastanha como se fosse vinho. A hortelã, que ainda está um pouco presente, vai perder intensidade por oxidação, tal como a cor.
Eduardo, adoro a Bahia. Embora a não conheça (só conheço de S. Paulo para sul), conheço alguns baianos, boa gente orgulhosa de sua terra com razão de sobra.
No Sul, beber uma garrafa de ginja, daria direito a um baita de um porre :)
Adoro ginjinha mas nunca fiz, quanto ao doce de ginja fazia-o todos os anos até que as ginjas desapareceram de Lisboa(?). Há muitos anos que já não as vejo à venda, mas é pena.
A falta de ginja seria um dos inconvenientes de viver na capital, se não houvesse falta dela por todo o lado. Essa mão cheia que arranjei foi numa aldeia perdida do Douro. Quem tem amigos não morre por falta de ginja :) Mas, mesmo com amigos, que está cada vez mais difícil, lá isso está.
falta de ginja não houve cá em casa mas sim a falta desta receita, amigo Avental!
fiz duas receitas completamente diferentes, estão "esquecidas no sotão" daqui por uns anitos vou avaliar.
onde posso encontrar a baga do sabugueiro?
Olá, Mónica. Tem de procurar um sabugueiro. Se não souber como é, pergunte, vale a pena. Agora estão cheios de cachos maduros. É a altura. Creio que se dá sobretudo na metade norte do País. São árvores que, em geral, não pertencem a ninguém.
Um taberneiro de Lisboa deu-me uma dica: o licor ganha cor se deixarmos as ginjas em aguardente durante um ou dois meses, e só depois adicionarmos o açucar e os restantes ingredientes.
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